A cidade que possui mais de 400 terreiros de Candomblé e centros de caboclos, ainda não conseguiu, ao longo da história, eleger um(a) representante deste segmento para o Legislativo Municipal. Uma demonstração nítida do quanto o racismo está impetrado na sociedade e incide sobre a vida das comunidades negras. Valmir Assunção, deputado federal (PT), afirma que 2020, ano que segundo a tradição africana, é regido pelo orixa Xangô, o senhor da justiça, deve ser o ano da quebra desse tabu.
‘Compreendo as candidaturas da Mameto Cacau, Pai Waldemir, Mãe Laura e Tata Zaragosi como legítimas e necessárias e coloco nosso mandato à disposição para ajudar as companheiras e companheiros nessa empreitada, pela representação do nosso povo’.
Tata Zaragosi
Andre Siqueira, popularmente conhecido como ” Zaragosi”, casado, Acadêmico em Gestão Ambiental, 42 anos, é Tata Xikarongoma do Terreiro Matamba Jisimesí, reconhecido pela incansável luta em defesa do sagrado e respeito ao povo de santo e à religião de matriz africana. Possui forte relação com os terreiros de Candomblé de Lauro de Freitas e tem o respeito de muitas autoridades religiosas.
Em sua trajetória na política, idealizou, fundou e atualmente preside a Associação Equilíbrio Social, organização que atua, há 12 anos, nos segmentos da Educação e Cultura.
Zará coordena o Departamento de Orientação Social e Educativa da Federação Nacional do Culto Afro Brasileiro – Fenacab. “Zaragosi” foi assessor parlamentar na Assembleia Legislativa da Bahia e na Câmara de Vereadores de Lauro de Freitas e secretário municipal de Cultura. Em sua passagem pelo governo do estado, foi coordenador de Estatística da Secretaria de Justiça da Bahia.
No campo social atuou como mestre de capoeira angola, desenvolveu o Vestibular Solidário e prestou apoio técnico ao Conselho Municipal de Cultura e à Superintendência da Promoção de Igualdade Racial – Supir.
André acredita que, com a experiência adquirida, tanto no terceiro setor, trabalhando na ponta, quanto nas esferas do parlamento e governamental, adquiriu o conhecimento necessário do processo administrativo e legislativo, para representar a religião Candomblé, sem se desviar de sua identidade de matriz africana.
Nos pilares do programa de gestão, defendidos por André, se destacam a luta pelo respeito aos candomblecistas e à construção de uma estratégia de conscientização, para os adeptos da religião; a preservação do meio ambiente; assistência jurídica previdenciária para o povo de santo e atendimento de saúde dentro dos terreiros.
Zará construiu sua plataforma, a partir de uma série de conversas com pessoas da religião, desde os cargos mais destacados da hierarquia até aqueles que aderiram, recentemente, à crença nos nkisses, orixás e caboclos.
“Desejo ser vereador, pois sinto a necessidade que o nosso povo tem de ser representado nos espaços de poder. Se os outros segmentos religiosos, tem seus líderes políticos, por que não podemos ter os nossos? Finalizou.
Mameto Cacau
A Mameto, Cláudia Santos, conhecida como Mãe Cacau, é a sucessora da saudosa Mãe Augusta do Mansu Dandalunda Oyá Kisimb de Nzamb, terreiro de Candomblé da Nação Angola, situado no bairro do Jambeiro, cidade de Lauro de Freitas.
Cacau, 42 anos, praticamente nasceu no Candomblé. Foi iniciada aos 20 anos de idade e, há 16, está à frente do terreiro, conduzindo, de forma maestral e com muita disciplina, preservando o legado espiritual da família Pereira
Mãe Cacau tem sua militância forjada na luta. É oriunda dos movimentos sociais. Tem atuação na luta pela garantia dos direitos do povo de Candomblé, no protagonismo das mulheres negras e inserção na comunidade LGBTQI+. É considerada uma pessoa leve, de fácil trato, porém incisiva e de postura forte na defesa do seu ideal.
Filiada ao Partidos dos Trabalhadores – PT, carrega consigo o sentimento de ter construído e participado dos governos da prefeita Moema Gramacho, com importante passagem pela Superintendência de Promoção da Igualdade Racial – Supir, onde ajudou na elaboração do Plano Municipal de Políticas para as comunidades negras e periféricas.
Mãe Cacau atua, ainda, na construção de políticas culturais. Compôs o Conselho Municipal de Cultura, sempre defendendo uma política cultural inclusiva e de preservação da identidade. Ela questiona o perfil masculino do Legislativo municipal. “Vivemos numa das cidades mais racistas do Brasil. Somos milhares, sendo vistas e tratadas como algumas.
‘Não descansarei até poder sentar na cadeira do Legislativo e gritar, como mulher preta que sou, que essa cidade tem cor e identidade racial e de gênero. Como podemos explicar, que numa cidade em que a maioria é de mulheres, eleger uma câmara totalmente masculina? Isso está errado. Essa cidade só será uma cidade, para todos e todas, quando uma mulher, negra, for eleita para representar seu povo”. Finalizou
Pai Waldemir
Com 40 anos de “Axé” e 30, ocupando o cargo de Tata de Nkissi (pai de santo), à frente do Terreiro de Santa Bárbara, no bairro Araqui, Waldemir Filho, conhecido como pai Waldemir, é uma personalidade da política e da religião, na cidade de Lauro de Freitas.
Bastante conhecido e querido, tanto na religião quanto no meio político, Pai Waldemir conseguiu, ao longo dos tempos, transformar o seu terreiro em um centro de referência cultural e social para as comunidades do Araqui e Lagoa dos Patos.
As festividades religiosas, realizadas na casa de Pai Waldemir, se caracterizam pela beleza simbólica e pela presença de autoridades que fazem questão de comparecer, todos os anos, à Festa de Santa Bárbara, a regente da Casa.
Pai Waldemir se tornou conhecido por atender às demandas do povo de sua comunidade. Pessoas simples que precisavam de apoio nos mais variados sentidos: emprego, alimentação e em períodos chuvosos e da intermediação entre a prefeitura e os atingidos.
Atualmente, o seu terreiro, também, funciona como um local de ajuda para muitos moradores da região.
“Nós que temos essa missão, de Pai de Santo, atuamos como assistentes sociais, médicos, psicólogos, professores e outras funções diversas. O povo sofre e vê, em nossos portões, um porto seguro, um lugar onde encontram uma mão amiga, um ombro pra chorar, um prato de comida. É nossa missão”.
Pai Waldemir disse que quer ser vereador, pois sente que é um chamado do orixá, para ajudar o povo de sua cidade. Ele diz que, com o Poder Legislativo, vai poder atuar de forma mais efetiva e com mais condições de ajudar as pessoas, vai poder promover a melhoria de infraestrutura, transporte e saneamento nos bairros populares do município.
A intolerância religiosa e a falta de respeito ao Candomblé, também estão na bandeira de luta que pai Waldemir vai levantar, em sua campanha.
Ele diz que o Candomblé é uma religião como as outras e que precisa ser respeitada. “Quero atender ao chamado do orixá, quero representar meu povo, ajudar as pessoas da minha cidade”. Concluiu.
Mãe Laura
A Mãe de Santo “Mameto de Nkissi”, Laura Borges, 42 anos de idade, 27 dedicados ao Candomblé e 19 como sacerdotisa, moradora do bairro de Vida Nova, apresenta, de forma corajosa, a sua pré-candidatura à vereadora de Lauro de Freitas, pelo PCdoB.
Mãe Laura como é conhecida, tem um intenso trabalho social junto as comunidades terreiros com ênfase no desenvolvimento econômico e geração de renda.
No bojo de suas iniciativas, traz um legado de ações e projetos ligados a mulheres trans; educação infantil para crianças e adolescentes de terreiros e saúde da população LGBT, com exames de próstata e consulta com ginecologista e formação para empoderamento das mulheres negras.
Em parceria com a Secretaria Municipal de Trabalho, Esporte e Lazer – Setrel, Mãe Laura desenvolveu e coordenou o projeto “Economia do Sagrado Solidária”, atuando de forma ativa, no fortalecimento da autonomia feminina, voltada para povos de terreiro, oferecendo suporte técnico e logístico para o fomento de empreendimentos e geração de renda. O projeto visa, também, atuar como uma frente antirracista, combatendo o ódio e a intolerância religiosa, além de contribuir com a afirmação de identidade étnico racial, fazendo com que as pessoas tenham mais orgulho de suas raízes e de sua ancestralidade.
Mãe Laura foi responsável, ainda, por desenvolver oficinas voltadas à saúde e ações de combate à violência contra a mulher.
Dentro dos terreiros, levou cursos de qualificação profissional e empreendedorismo. Fora deles, levou para as escolas públicas o projeto “Terreiro Aberto”, onde oferece palestras e oficinas de reconhecimento da identidade.
Mãe Laura defende a presença, na Câmara de Vereadores, de uma mulher negra, mãe de santo, da periferia e que conheça bem a realidade das pessoas comuns de nossa cidade.
“Pretendo ser vereadora para representar nossa gente, povo de santo, movimento de mulheres, LGBTs e todos(as) aqueles(as) que sintam que seus direitos foram negados ou cerceados. Não hesitarei em defender nosso povo, nasci mulher, nasci negra e com cargo de santo para fazer a diferença”.
Por: Ricardo Andrade