Apesar de ser uma das cidades mais negras do Brasil, com mais de 80% da população composta de afrodescendentes, Lauro de Freitas está longe de ser uma cidade racialmente igualitária. O racismo fala alto e está presente no cotidiano das pessoas. É muito difícil e perigoso viver como homem e mulher negro(a) neste município.
Os índices de violência letal contra a juventude negra, os números crescentes do feminicídio, as agressões às comunidades LGBTs e o ódio disseminado contra os povos de comunidades de matriz africana, revelam o triste cenário onde negros e negras são os protagonistas num terrível espetáculo dos horrores.
O movimento negro segue em sua incansável luta denunciando o racismo e seus mantenedores. Aponta na direção das políticas de inclusão e busca meios de se manter vivo.
O racismo institucional é apontado como o mais nefasto entre todas as suas formas de manifestação. “É o racismo institucional que mata o jovem negro a partir da arma da polícia, assim como, o que mata uma mulher negra, numa maca no corredor de um hospital” Afirma Saory Brito do Coletivo de Entidades Negras.
O governo bem que tenta fazer a sua parte, mas as estruturas de combate ao racismo são frágeis e insuficientes, não dão conta de um adversário poderoso e que tem a capacidade de reinventar todos os dias.
A coordenadora executiva da Superintendência de Promoção da Igualdade Racial (SUPIR), Cláudia Santos, em entrevista ao Folha Popular, fez um resumo das ações realizadas no Novembro Negro 2017. Cláudia afirma que nenhum governo e nenhuma ação governamental vai dá conta da luta contra o racismo e que só mesmo a consciência negra coletiva será capaz de fazer a revolução que precisamos e devolver a dignidade para o nosso povo. ‘O racismo institucional por sua vez é sim, o maior dos desafios que temos à nossa frente, pois ele é estruturante’. finalizou.
Feiras de Saúde
As feiras de saúde foram realizadas durante o novembro negro nos terreiros Ilê Axé Ofá Wurá em Vida Nova, Oyá Matamba em Portão e no Mansu Dandalunda Oya Kisimbi N’Zambi no bairro do Jambeiro. Uma parceria da SUPIR com a Secretaria Municipal de Saúde que possibilitou o estreitamento das estruturas da saúde pública e do povo de terreiro. Entre os serviços oferecidos destacam-se as consultas com médicos clínicos, aferição de pressão arterial, hipoglicemia e exames de diabetes.
Projeto Okan Tokan
Realizado em Portão, o evento debateu a cerca das políticas afirmativas e raciais, a partir das linguagens culturais como grafite e rap. Ressaltou a importância da afirmação da estética afro e o papel que desempenha na elevação da autoestima dos homens e mulheres negras. Ao final foi prestada uma homenagem póstuma a baiana de acarajé Detinha.
Dia Nacional do Hip Hop
Uma importante conquista da juventude negra laurofreitense, o dia 12 de novembro foi celebrado na Concha Acústica e reuniu os grandes talentos do Hip Hop local. Artistas convidados também se fizeram presentes. Foi uma noite de arte, talento e celebração da vida.
Alvorada dos Ojás
A Alvorada dos Ojás é sem sombra de dúvidas a mais simbólica das ações promovidas no Novembro Negro de Lauro de Freitas. Não é coincidência que é justamente contra a amarração dos ojás que o racismo lança as suas mais intensas manifestações que variam da acusação de inconstitucionalidade na compra dos tecidos até o desespero de queimar após arrancá-los das árvores.
Mais um ano, mais um novembro negro e mais uma vez os atos de racismo são pormenorizados. O silêncio das instâncias de poder é preocupante. No ano de 2015 durante a amarração dos ojás, a PM foi chamada para atender uma diligência no bairro de Areia Branca. Ao chegar no local uma senhora, adepta do candomblé gritava desesperada: ‘toque fogo neste que está na minha cabeça também’. Ela se reportava a um homem que teria arrancado o ojá de uma árvore próximo a sua residência e ateado fogo em seguida.
O futuro aponta para dias difíceis, não iremos recuar.
Por: Ricardo Andrade