A batalha do caranguejo é uma manifestação cultural autônoma, iniciada a partir de talentos oriundos dos becos e vielas do bairro de Itinga e que hoje reúne jovens de toda a cidade. Surgiu em setembro de 2015* e seu perfil independente é a sua principal marca. É na batalha do caranguejo que rappers e mcs travam verdadeiros confrontos poéticos alicerçados nas batidas dos DJs.
Essa articulação, diante do seu caráter artístico juvenil, deveria ser compreendida como a mais constante vitrine cultural da cidade. Mas em se tratando de Lauro de Freitas, umas das cidades mais racistas do Brasil, a batalha do caranguejo, que é um evento cultural, está sobre ameaça de acabar.
Ver jovens negros portando microfones e trocando balas de literatura marginal deve ser realmente um constrangimento para uma elite que espera que esses meninos e meninas estejam confinados em suas ruas mal iluminadas e esperando os equipamentos públicos de lazer ser construídos ou reformados.
A batalha do caranguejo é coisa de preto, e assim sendo, sofre a ótica do racismo e do preconceito. A tese que defende a extinção da batalha levando em consideração a hipótese da venda e consumo de drogas durante sua realização não se sustenta. É racista. Se aplicada tem que se estender aos postos de gasolina e bares ao longo da Estrada do Côco, aos botecos de Vilas do Atlântico onde todos sabem que o consumo de entorpecentes é escancarado. Mas isso é coisa de branco.
Se o suposto consumo e tráfico de drogas no Largo do Caranguejo é a justificativa para acabar com a batalha, o que fazer então do Festival de Verão e com o carnaval de Salvador? E se esse consumo e venda adentrar as escolas, suspenderemos as aulas?
O Estado Brasileiro não se respeita, não admite que esteja de joelhos, que perdeu a guerra contra o tráfico e insiste de forma covarde em incidir sobre “minorias” vulneráveis, no sentido de prestar contas aos patrões brancos.
O deputado Federal Valmir Assunção (PT) durante sua fala na Câmara Federal defendeu o que chama de legítima expressão cultural da juventude negra de Lauro de Freitas e sugeriu que as autoridades locais invistam mais na Batalha. Para Valmir o crime se desenvolve na ausência de políticas públicas.
Kaos MC, responsável pela Batalha afirma que não se pode conter o vento e que a batalha do caranguejo é um movimento cultural e de expressão da arte. “A história mostra que todas as tentativas de conter a arte foram frustradas. A batalha do Caranguejo é vida e a vida necessita da arte. Afirmou.
Por: Ricardo Andrade
- (fontes atestam que as primeiras batalhas ocorreram no início de 2015, mas só passaram a ter registro a partir de setembro)