Hoje pela manhã ao vermos o vídeo do cabo Ivan Leite lembramos do ditado “quem com ferro fere com ferro será ferido” e assim parte a parte, pedaço por pedaço fomos analisando a mensagem preconceituosa que a cada instante ele deixava escapulir da sua boca.
Acreditamos que o posicionamento dele era anacrônico ao da Corporação, mas ao ter acesso a notícia do comandante Anselmo Brandão apoiando o cabo Ivan Leite percebemos que a tão difundida “Corrente do bem” – que virou o lema desse comando da PM – foi se distorcendo a tal ponto que os elos começaram a se desmontar, pois, pasmem, o comandante disse que iria convocá-lo para fazer parte da comunicação social da corporação. (http://www.deolhonews.com.br/comandante-da-pm-diz-que-kannario-e-marginal-e-elogia-declaracao-de-cabo-nas-redes-sociais/).
Esse fato só demonstra o quanto de preconceito ainda existe no comando da corporação.
Também soa estranho o fato do Comandante que traz um guru da Índia para treinar a corporação, que faz exercícios de respiração e tem crenças espiritualistas apoiar falas intempestuosas, preconceituosas e racistas como a do Cabo Ivan Leite.
Aliás causa surpresa um Comandante da PM denominar um Vereador de “marginal”, o que mais uma vez demonstra as fragilidades das instituições, ou melhor, o quanto os lugares de poder são meramente convencionais a outros elementos condicionantes.
Compete a um comandante da polícia militar julgar um vereador? Foram os processos relativos a Igor Kannário transitados em julgado? Todo mundo que é preso pela polícia militar é marginal? Podemos listar vários antigos sindicalistas que se transformaram em exponenciais políticos, de deputados a governadores e presidentes, que também já foram presos por essa mesma polícia militar. Será que eles também seriam chamados de marginal publicamente, ou no caso do vereador Igor Kannário é porque ele é a representação simbólica de um extrato social que assim “pode” ser tratado a todo tempo porque “não vai dar em nada”.
Seria Igor Kannário um vereador de segunda classe?
Cremos que quem se inspira em Gandhi, em guru indiano e constrói uma “corrente do bem”, não pode desafinar no compasso carnavalesco. No entanto também é fato que, em regra, o carnaval é a festa do consumismo, daí ainda tem muita gente interessada em consumir a carne negra que se mantém como a mais barata e menos valorizada no mercado até mesmo pelos seus iguais que também sofrem as mesmas violências.
Uma coisa é certa, querendo ou não a mão de obra barata e desprestigiada que abastece os quadros da polícia militar vem do mesmo local de quem curte a pipoca de Kannário e, quase via de regra, as vidas desses corpos ainda jovens e negros são ceifadas por essa mesma violência que retroalimenta o sistema e joga os seus corpos na mesma vala.
Uma lástima.
Coordenação Estadual do Coletivo de Entidades Negras-CEN