Agora que estão oficialmente encerrados os quinze minutos de fama de Ciro Gomes nas eleições 2018, declaro que vou começar a mudar de assunto por aqui.
Depois de ele, com seu grande senso de oportunidade, passar dois anos tentando se estabelecer no vácuo político da já esperada ausência de Lula no quadro eleitoral, e mesmo com seu silêncio sepulcral durante os vários meses que antecederam e as várias semanas que sucederam a prisão do maior líder popular e de esquerda do mundo na atualidade, vou declarar também oficialmente encerradas minhas deliberadas provocações cheias de escárnio em direção à tese sem futuro de que o candidato do PDT poderia ser uma alternativa à esquerda no Brasil.
Muitas coisas na política são imprevisíveis, algumas são muito previsíveis.
A canoa furada de Ciro só não via quem estava apaixonado. Mas agora que Inês é morta, não vou nem mais prosseguir nesse debate.
Queria apenas aproveitar este derradeiro post sobre o tema para explicar algo importante a estes que andam falando muito sobre “antipetismo” por aqui.
O “antipetismo”, amigo, não é “antipetismo”.
“Antipetismo” é só o nome.
O que se diz de “antipetismo”, e que tem apavorado tanto vocês, se trata de “antiesquerda”.
“Antipetismo” se trata de uma agenda contra qualquer pensamento ou iniciativa ou possibilidade de igualdade social no Brasil.
“Antipetismo” é o nome que se dá à repulsa contra qualquer brisa de projeto que possa significar qualquer passo em direção a outra sociedade que não a da injustiça e da absoluta falta de dignidade para o povo trabalhador.
“Antipetismo” é só o nome. E não o acaso que deu este nome à agenda da direta no Brasil. O nome é este porque eles sabem o que se significaram os governos dos PT. O nome é “antipetismo” porque eles sabem que derrotar a esquerda passa inexoravelmente por derrotar o PT. Há quarenta anos é assim. E assim será durante ainda muito tempo.
O nome da agenda de direita é “antipetismo” porque a principal força social, política, partidária e eleitoral de esquerda no Brasil, com todos os seus problemas, todas as suas limitações e todas as suas contradições, também tem nome.
“Oh, céus, não deixarão eles governarem”, você possivelmente dirá. Mas aí você precisa se decidir.
Se você tem certeza que eles não nos deixarão governar o Brasil novamente, e eu acho mesmo que eles tentarão a todo custo não deixar, você precisa necessariamente admitir que manter a candidatura de Lula até o último minuto, defender sua liberdade e seu direito de ser candidato, e defender a candidatura de Haddad, não se trata apenas de voltar a ser governo.
Se trata de combater o fascismo olhando na cara dele. E correr todos os riscos que isso possa significar.
Mas você, de esquerda,
pode também fingir que o “antipetismo” não tem nada a ver com você.
Você pode fingir que todos os esforços mobilizados pela direita, imprensa e judiciário para inviabilizar o PT tem a ver mesmo apenas com o PT, e não com o projeto que ele significa e representa.
E você pode também, daqui até o dia 7 de outubro, continuar exercitando sua criatividade para elaborar um argumento por semana para justificar seu voto num candidato à direita, numa chapa à direita e num projeto à direita, porque está com medo de perder a eleição.
Eu só espero, de coração, vermos-nos juntos no quase inevitável segundo turno.
Por: Gabriel Oliveira