Bastou o governo golpista de Temer usurpar o poder
para autorizar a Marinha construir o muro para impedir que quilombolas tenham acesso ao rio
Cerca de 85 famílias remanescentes do Quilombo Rio dos Macacos, em Simões Filho, na divisa com Salvador, vivem em casas de barro cobertas com telhas de amianto, sem água encanada, energia elétrica e rede de esgoto. E, hoje, temem perder o único acesso que têm a água por conta de uma obra erguida pela Marinha.
Mais de um ano depois de a União ter reconhecido como quilombola uma área de 301 hectares, por meio de portaria publicada em 18 de novembro de 2015, a comunidade ainda aguarda a titulação de posse da terra.
O quilombo está numa região que foi alvo de longa disputa judicial com a Marinha do Brasil, que se instalou no território na década de 1970. Com a demarcação das terras, os militares ficaram com a responsabilidade de gerir 196,2 hectares, incluindo a área do rio dos Macacos, de onde atualmente a comunidade retira água de maneira artesanal para sua subsistência.
A Marinha já começou a construção de um muro para restringir o acesso ao território que lhe pertence. Os quilombolas receberam 104,8 hectares.
A titulação de posse deverá ocorrer dentro de seis meses, conforme prevê a Secretaria da Presidência da República, à frente dos órgãos federais que cuidam da questão. A barragem Rio dos Macacos, que sedia a Base Naval de Aratu, considerada pelos militares como “equipamento estratégico à defesa nacional”, ficou na área da Marinha, por isso a comunidade quilombola teme ficar sem água.
“Desde a chegada da Marinha, a gente parou no tempo. É como se ainda fôssemos escravos”, desabafou o extrativista, trabalhador rural e pescador José Sousa, 51, ao comentar a iniciativa de proibir o acesso ao rio.
Fonte: UOL